Alguns dos principais criminalistas que enfrentaram a Força-Tarefa de Curitiba e defenderam seus clientes na Operação Lava Jato afirmaram que o depoimento do ex-juiz Sérgio Moro significou um recuo e trouxe poucas novidades em relação ao que o ex-ministro já havia afirmado desde que deixara a pasta da Justiça, no dia 24 de abril. "O Moro arredondou a história. Fez um recuo sem comprometer o presidente e sem se comprometer", afirmou o criminalista Alberto Zacharias Toron.
Também criminalista, Roberto Podval, que defende o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, afirmou que Moro não tinha outra opção em seu depoimento. Para Podval, se o ex-juiz desse uma opinião negativa o presidente poderia se colocar em uma posição difícil. Tanto ele quanto Toron acreditam que o Ministério Público Federal (MPF) poderia questioná-lo. Entre as hipóteses de acusações que o ex-titular da Justiça poderia, em tese, ter de enfrentar está a de prevaricação.
"Moro assumiu uma postura defensiva", afirmou Podval. Durante a Lava Jato, era conhecida a fama de estrategista de Moro. O então magistrado se comportava sempre como se estivesse dois passos atrás do que ele realmente estava e de onde gostaria de chegar. "Mas lá era ele quem decidia, e a retórica usada por ele com os investigados pouco importava."
De acordo com Podval, o ex-juiz se vê agora diante de uma situação nova, que ele não controla: ele não pode mais "escrever o roteiro" do que vai acontecer, por mais que imagine aonde ele pode terminar. "As decisões sobre o futuro de Moro estão nas mãos do procurador-geral da República e do ministro Celso de Mello e isso o colocou na defensiva. Moro está na posição de muitos que passaram pela 13.ª Vara criminal de Curitiba: é também um investigado."
Estadão